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Ice AVenturaS

A Aventura de estar no topo do meu Iceberg... Ou seja, da minha mente! Pensamentos, reflexões, experiências, assuntos sérios ou maluquices da pessoa, mãe e psicóloga... Uma viagem talvez alucinante e meio louca!

Ice AVenturaS

A Aventura de estar no topo do meu Iceberg... Ou seja, da minha mente! Pensamentos, reflexões, experiências, assuntos sérios ou maluquices da pessoa, mãe e psicóloga... Uma viagem talvez alucinante e meio louca!

Conversas "infantis" sobre a vida e a morte... #5

Como qualquer criança curiosa e a quem falam com naturalidade sobre a morte (e sobre a avó que morreu), ele encara o tema como outro qualquer.

(Na verdade, ele e os meus sobrinhos também…)

Tem questões, pergunta e espera respostas, seja onde for.

Não lhe interessa o desconforto dos outros acerca do tema, nem o percebe. Explicaram-lhe que toda a gente morre, que faz parte da vida e que essas pessoas já só conseguimos ver em fotografias. E ele acha que é natural falar disso com os outros, como fala comigo.

 

Por isso, quando começam a haver mais questões sobre o tema, decido falar com a educadora sobre o assunto. Aviso que ele poderá falar e peço-lhe que tente responder e falar naturalmente com ele sobre o que ninguém quer falar, sobre a morte e a doença. Tento prepará-la para que não reaja mal, caso a conversa surja.

 

Mas sei que ele fala principalmente comigo, pois eu tento responder-lhe sempre, com a verdade e a maior naturalidade que me for possível… E ele pode não perceber o porquê do desconforto do outros, mas sente-o...

 

E, volta e meia, quando está comigo, lá vem a questão, normalmente em bom volume, como é hábito nas crianças da idade dele:

- Mamã, estas pessoas já morreram, não já? – pergunta-me apontando para um cartaz publicitário/revista/placard...

- Não sei, filho. Não as conheço, mas acho que não.

- Eu acho que se calhar já morreram.

- Acho que não, filho, mas não sei. Acho que são só pessoas a quem tiraram fotografias e que ainda estão vivas, pois parecem-me novas e sem doenças. Mas não as conheço para saber quem são, nem onde estão.

- Hummm.

 

Passados uns dias, vê outra “fotografia” de alguém e lá vem a mesma questão… Repetindo-se a mesma com a alguma frequência em diversas situações.

 

Mas o episódio mais “divertido” (nem sei que lhe chame) destes foi mesmo a seguinte…

 

Passou-se no meu museu favorito, em Manchester, o People’s History Museum. Um Museu fantástico sobre a história das pessoas, cheio de jogos e brincadeiras para os mais pequenos.

Eleito por isso mesmo como local de visita com o nosso filhote, para nos abrigarmos do habitual tempo chuvoso e ventoso de Inglaterra e para passar um bom bocado. E também para descansar um pouco no seu café espetacular, com vista sobre um dos vários canais de água de Manchester, que tem “Portuguese Typical Cakes” (nesse dia, Bolo de Arroz).

Além disso, é um Museu onde através de jogos e brincadeiras (vídeos, ficheiros áudio apresentados em discursos ou através de variadíssimos modelos de telefone, malas de crianças que fugiram à guerra com objetos para explorar, roupas para experimentar, gavetas para abrir, entre outros) se fala de assuntos importantes: igualdade de direitos entre homens e mulheres, direitos sociais e de trabalho, a revolução industrial, as desigualdades sociais e económicas e a evolução histórica da sociedade ao longo do tempo.

Pensei eu, uma ótima oportunidade para introduzir alguns temas e falar-lhe de assuntos importantes “na brincadeira”… Começar a criar alguma consciência social… Pois sim!

 

Ainda mal começámos a ver a exposição, explico o conceito, que estamos num museu que fala da história e das pessoas e nos conta como eram as coisas antes…

 

Primeira imagem de alguém:

- Mamã, aquela senhora já morreu? – pergunta-me.

- Sim, filho, já morreu. Os Museus são sítios que contam a história das pessoas que viveram há muitos anos. Falam da história e do que se passou há muito tempo, antes de tu nasceres ou até da mãe da nascer. Por isso, estas pessoas já morreram.

- Aaaah… E, aquele? Já morreu?

- Sim, filho, já morreu. Mas olha, sabes quem era esta pessoa? – Começo a tentar explicar a história…

- Hum, hum. E, aquele? Já morreu?

- Sim, filho, estas pessoas já morreram todas. É um Museu. Fala obre pessoas que viveram há muitos anos. Se fossem vivas, já tinham mais de 100, 200, 300 anos… Ninguém vive tantos anos.

(Tento direcionar a atenção para outras coisas)

 

- Olha, anda cá ver esta mala. Tem coisas lá dentro. – Digo entusiasmada. – Sabes de quem era? Era de uma menina que fugiu à guerra… Estás a ver este desenho que ela fez? O que desenhou ela?

- São pessoas com armas e aviões a deitar bombas!

(Penso: “Ah, com esta conquisto-te e páras de perguntar se já morreu e ouves a história!”)

- Pois. Ela teve de fugir, porque andavam malandros com armas e aviões aos tiros a fazer mal a toda a gente. Já imaginaste o medo? É por isso que a mãe não gosta de armas, sabes?

- Sim. – Diz, desinteressado. – Olha, e ela já morreu?

- Sim, filho, já morreu. Viveu há muitos anos. Vamos ver que mais está na mala dela… Olha, esta fotografia dela com os pais!

- Hum, hum. E eles? Já morreram?

(…)

 

Mais à frente tento falar-lhe de desigualdades sociais, de como uns tinham muito dinheiro e outros quase nada…

- Mamãaa! E já morreram?

(…)

 

Mais à frente tento falar-lhe da luta das mulheres para terem direito a votar…

- E elas? Já morreram?

(…)

 

Basicamente, foi o museu de uma ponta à outra a apontar para imagens e a perguntar se as pessoas já tinham morrido, do estilo disco riscado com uma canção que ninguém quer ouvir… Borrifou-se para as histórias que lhe tentei contar, gostou de brincar na loja Cooperativa do museu e de mexer em coisas e, acima de tudo, de perceber se aquela gente já tinha mesmo morrido toda, não estivesse eu a esquecer-me de alguém!!!

 

Quando chegámos ao fim do museu já eu estava de cabelos em pé, sem saber se ria ou chorava, a tentar ser o mais “natural” possível e quase a perder a paciência… O Pai já só lhe pedia que se calasse com a pergunta…Que perguntasse outra coisa qualquer!

 

Se eu acreditasse em Deus, diria: “Oh, céus, ajudem-me!” LOL

 

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Conversas "infantis" sobre a vida e a morte... #4

- Então, se os micróbios estragaram o corpo da avó e a puseram doente… Eu tenho micróbios que estou constipado… Vou morrer?

 

(Esta é tramada! Como não lhe mentir e responder a isto sem o assustar?!)

- Não, filho, não vais morrer por estares com gripe! Todas as pessoas têm gripe às vezes, mas não morrem por estar constipadas. Os teus micróbios são dos que chateiam, mas não matam. Todas as pessoas morrem um dia, mas não é por estarem com micróbios da gripe.

 

- Mas a avó também tinha micróbios!

 

(Pois, é… Foi mais ou menos isso que lhe disse e agora? Como descalço a bota? Como explico o que é cancro e metástases a uma criança de dois-três anos? Que não foram micróbios, nem bichos, mas células que degeneraram? Como explico o que é uma célula a uma criança desta idade??? Com calma…)

 

- Eu sei que foi isso que a mamã disse… mas não me expliquei muito bem. Deixa ver se consigo explicar melhor para tu perceberes.

A avó não tinha bem micróbios… O corpo dela começou a estragar-se e a ficar doente, mas não foi bem por causa de micróbios…

Olha estás a ver os teus carros dos legos? (“Sim.”)

Nós montámos os teus carros de legos juntos. Pegámos em peças de lego e construímos os carros. Os nossos corpos também são feitos de peças muito pequenas que não conseguimos ver. Só ao microscópio que é assim uma espécie de uma lupa super poderosa, como a tua lupa de polícia. Ou como uns binóculos especiais.

Estás a perceber?

 

- Mais ou menos…

 

- Ok. Então, estás a ver os teus carros de legos, certo? Eles têm muitas peças e se uma se estragar eles vão ficar meio estragados. Ou os outros carros. Por exemplo, aquele que se partiu uma roda. Ficou estragado, não foi?

 

- Sim.

 

- Então, o nosso corpo também é feito de muitas peças super pequeninas. Olha, como os legos e como aqueles soldadinhos brancos e vermelhos do sangue que estão naquele livro sobre o corpo. Lembras-te?

 

(Acena afirmativamente)

 

– Pronto! Algumas peças do corpo da avó ficaram doentes e começaram a estragar-se. Como eram malandras, começaram a estragar outras peças dentro do corpo da avó. E avó começou a ficar muito doente por causa disso e a sentir-se muito mal.

 

- As peças malandras davam pancadas nas outras e batiam-lhes assim: "Pumba!" para estragar as outras? (Faz gestos de murros e luta)

 

(Sorrio)

- Sim, filho. Mais ou menos. Eram mesmo muito malandras as peças doentes, por isso é capaz. Mas como só dá para ver com o microscópio... A tal lupa especial. Nós não conseguimos ver bem. Só sei que estragaram as outras, as malandras!

 

(Com "zaragata" pelo meio fica satisfeito com a explicação, continuo...)

 

- Então, os médicos tentaram arranjar as peças e tratar da avó, mas não conseguiram. E foi por isso que ela ficou muito doente e a sentir-se mal, até o corpo dela não aguentar mais e ela morrer. Não foi por causa de micróbios como os que tens.

 

- Porque não conseguiram? Os médicos, porque não conseguiram?

 

(Boa pergunta! Também gostava de saber…)

- Olha… Porque a doença que a avó tinha era muito má e as peças eram muito malandras. Os médicos tratavam de umas e outras peças malandras estragavam mais peças e cada vez havia mais peças estragadas no corpo da avó.

Mas os médicos costumam conseguir ajudar (Penso, para mim, “às vezes…”) e quando são micróbios de gripe, eles já sabem qual é remédio! Para a avó é que não conseguiram descobrir a tempo qual o remédio… Ainda andam a estudar, porque a doença dela é mesmo muito chata.

Percebeste?

 

Porque as peças eram muito más e batiam muito e estragavam tudo?

 

- Acho que sim, filho. Mas olha, não te preocupes com os micróbios que são malandros, mas não são o que a avó teve. E prometo que vamos tratar de ti e de nós e fazer tudo o que os médicos dizem para não apanharmos nehuma doença e as noças peças não se estragarem, está bem?

 

- Humhum.

 

 

(Ficou com uma ideia. O suficiente para acalmar as suas ansias e receios… Depois trará mais questões…)

 

 

 

Conversas "infantis" sobre a vida e a morte... #2

A par com as conversas sobre morte e vida que iam surgindo, o nosso cão (o outro bebé cá da casa) já velhinho, com 14 anos, e doente também, morre.

São tempos difíceis, com o cão muito doente e em sofrimento até termos de o pôr a dormir.

 

O meu filhote ainda nem dois anos tinha.

Deixámo-lo na escolinha e fomos dar paz ao nosso Boqui (cão).

 

Quando o trouxemos para casa, contamos-lhe que o Boqui morreu.

Não dizemos que fugiu, não escondemos, não compramos outro “cão igual”.

Explico que estamos tristes, porque o Boqui estava velhinho e doente e morreu. Não o vamos voltar a ver, mas temos as lembranças dele e as brincadeiras que tivemos com ele. Temos fotografias e agora ele vive no nosso coração, porque nos lembramos e gostamos dele.

Porquê?

Porque estava doente. Porque era velhinho e o corpo dele estava a ficar estragado, estava muito doente.

Era a verdade.

 

Ficou triste, mas aceitou dentro do que a compreensão de uma criança desta idade consegue.

Ainda falamos do Boqui com ele.

Ele sabe que teve um cão, que esse cão ficou velhinho, doente e morreu. Sabe que o passeava com a trela, ainda que já não se lembre mesmo dele, (do aspeto) a não ser em fotos, porque era muito pequeno quando o Boqui morreu.

 

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Conversas "infantis" sobre a vida e a morte... #3

A certa altura (talvez por saudades de ter um animal de estimação), lembro-me e compro peixinhos.

Dois novos inquilinos: “Bombeiro Sam” e o “Rocky”. Batizados pelo nosso “pardalinho”

Ele acha graça aos peixinhos, dá-lhes comida, ajuda a lavar o aquário. Não fica “maravilhado” com os peixes, mas acha-lhes piada.

 

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Certa manhã, o Rocky aparece a “boiar”.

Ele (meu filho) tinha pouco mais de dois anos e meio, e mais uma nova perda para compreender.

 

Contamos-lhe.

Não dizemos que despareceu, não escondemos, não compramos outro “peixe igual”.

Digo-lhe que ele devia estar doente, mas que foi um bom peixinho e teve boa vida e que podemos ir despedir-nos dele, largando-o na ribeira, porque ele gostava de água e havia de gostar do nosso “rio”.

Digo-lhe também que podemos ir comprar um novo peixinho depois, para o Bombeiro Sam não se sentir sozinho.

Levamos o corpo numa caixinha. Paramos no meio da ponte sobre a ribeira. Digo-lhe para me contar o que gostava mais no Rocky e para lhe dizer adeus. Abro a caixinha e deitamos os dois, o defunto às águas.

 

Ele não diz nada, mas fica a pensar no sucedido.

Ao final do dia, vou buscá-lo à escolinha. Pergunta-me:

Se eu ficar doente, tu também vais deitar-me ao rio?

(E agora? Tem a sua lógica…)

 

Não consigo não me rir. Sossego-o:

“Não, filho! Nunca, meu anjo! Se tiveres doente, vamos tratar de ti! Não se deitam pessoas ao rio!”

Explico que deitámos o peixinho ao rio para nos despedirmos dele, porque estava morto e porque os peixinhos gostam de água. Garanto-lhe que nunca o mandaria ao rio e que vou com ele ao médico quando estiver doente e farei de tudo para que nada de mal lhe aconteça.

 

E entre respostas e novas perguntas, fomos falando.

Sossegando-o e conversando com calma sobre a morte… Até porque houve uma sucessão de “funerais” e novos inquilinos, até eu desistir de ter peixes…

Não sabemos bem o que fazíamos de errado, mas volta e meio, lá se ia um peixe. Seja porque o “pardalito” se lembra de se pôr na cadeira para espreitar o aquário e lá vai aquário ao chão (desfaz-se me cacos no chão), seja porque um peixe decide “suicidar-se” e saltar do aquário improvisado (após queda do "a sério") para o chão, seja porque compro um novo peixe pretinho e os outros começam também a fica pretos e morrem… Não sei.

Desisti de ter peixes, mas esses “funerais” viriam a dar jeito para outras conversas mais tarde… Lá chegaremos…

Conversas "infantis" sobre a vida e a morte... #1

 A morte nunca foi assunto tabu cá em casa, mas sim uma realidade incontornável.

 

E o assunto de que todos fugimos a sete pés e, principalmente, recusamos falar com crianças, aqui sempre foi natural.

As perguntas que todos os pais temem (além de muitas outras de que eu também fujo um pouco), foram surgindo e foram sendo respondidas da maneira mais natural e simples que consegui. Sem mentir, apenas tentando adaptar ao sentir do meu filho… à compreensão dele.

 

É sobre essas conversas sobre morte e vida que vos quero falar, contando como têm sido e evoluído na nossa vida… Esperando que a partilha possa ajudar-vos também a falar de morte ou que as vossas contribuições e comentários me ajudem também e, que todos possamos conseguir falar do “tabu”…

 

Esta é a primeira delas.

 

Cedo tive de lhe explicar que a avó de quem tanto lhe falava, já não era. Tive de lhe explicar que não a podia ver senão em fotos, pois ela já não estava cá para o amar, mimar e vê-lo crescer. Não era tangível. Não a podíamos ir visitar. Tal como o avô dele, meu pai, apesar de não falar tanto dele. Ambos haviam morrido.

Tive que lhe explicar que a avó era uma memória doce no meu coração, que lhe queria transmitir. Que vivia em mim e nele, porque era a sua avó e a minha mãe. Era a minha mãe que se foi cedo demais (como achamos que vão sempre todos os que amamos e foi).

 

E vieram questões e o medo de nos perder… O e se a minha mamã/papá também morrer?

 

Então, sem lhe mentir, expliquei que avó morreu porque estava muito doente e que todas as pessoas morrem, normalmente por ficarem muito velhinhas ou então por ficarem doentes como a avó dele. Que faz parte da vida. Contei que a avó tinha uma espécie de bichinhos no corpo que estavam a fazer asneiras lá dentro, a estragar tudo e a pô-la doente. A explicação mais simples possível, tendo em conta a idade...

 

Expliquei que os papás ainda são novos e que vão tratar deles e ter cuidado para não ficarem doentes.

Prometi que íamos tratar de nós e dele, para que nenhum de nós ficasse doente.

Sosseguei o coraçãozinho dele, sem lhe prometer o que não posso: que não vou morrer um dia.

 

 

O social tem influência? E os estereótipos? Importam ou a genética impera?...

Tenho andado caladita sobre isto... Por falta de tempo, paciência e sei lá...

Depois de tanta polémica e tanto que se falou, acho que se perdeu o que é realmente relevante... Mais relevante que proibições ou recomendações, escândalos de Facebook e jornalismos de telenovela, mais do que decidir se opiniões de humoristas valem mais que as de comissões de especialistas...


Opiniões e gostos todos temos. E ainda bem que assim o é, se não "coitadinho do amarelo", como diz um tio meu...


Uma paródia não deixa de ser uma paródia, mesmo sendo feita por uma pessoa de quem gostamos ou respeitamos.

Uma análise de alguém de quem gostamos (e respeitamos), mas que não é especialista em pedagogia, em psicologia, em sociologia, em igualdade de género, etc, por muita cultura geral que tenha, parece-me que não se devia sobrepor a uma comissão de especialistas que emitem um parecer escrito sobre algo que viram e analisaram... E atenção, eu também gosto muito do humorista em causa, gosto muito de o ouvir falar "a sério" e respeito-o como pessoa... Mas, como ele próprio diz, "sou um humorista"... Não um político, jornalista ou "fazedor de opiniões". Mas a verdade é que ele as faz e de repente, as por ele emitidas têm mais validade que todas as outras e os mesmos que gozam e criticam quem falou sem ver, falam agora sem ver também, a não ser o que o RAP mostrou e de acordo com a opinião dele... E esquecendo a parte que não lhes interessa: o próprio RAP concordou que os livros estavam cheios de estereótipos (para ambos os sexos), mas defensor acérrimo como é da liberdade de expressão (e dos parvos se expressarem que é para ser mais fácil identificarmo-los, como ele próprio diz) não concorda com o desenrolar e resultado de toda a situação.


Não tenho uma posição bem definida quanto a recomendações/proibições, confesso. Preocupa-me mais que ainda sejam necessárias. Preocupa-me que sejam ridicularizados e reduzidos a genética certos estereótipos. Preocupam-me os extremismos... Preocupa-me que se achem naturais e se propaguem como tal certos comportamentos e atitudes, porque sempre foi assim... A escravatura também foi natural e "sempre foi assim", porque "os pretos" eram "geneticamente inferiores aos brancos", até que deixou de o ser. Hoje ninguém acharia natural haver um livro de exercícios para pretos e outro para brancos, apesar das diferenças óbvias visíveis... Quanto mais não seja no tom de pele.


Opiniões todos temos, de facto.
A minha é esta... A da excessiva ligeireza com que se menosprezam certas questões...

 

A psicologia (e não só, também outras ciências) têm vindo a mostrar que os nomes que damos às coisas são importantes e moldam a forma como interagimos... Daí, por exemplo, a alteração de paradigma de "utente" para cliente, de alguém que usa um serviço e se deve contentar, para o cliente de um serviço que tem direitos por utilizá-lo. E quem escreve também o sabe, ou não teríamos meninas (tão fofo) e rapazes (que valentes).


A forma também é conteúdo e molda o modo como vemos as coisas, ou não saberíamos de imediato que um bebé de cor-de-rosa é menina e um de azul é menino (será mesmo assim? E é assim porque eles já nascem a gostar mais de azul e nós, meninas, de rosa? Os nossos gostos são totalmente determinados pela genética, será?).


Os livros têm (ou deviam ter) revisão editorial que contemple texto (conteúdo) e imagem (forma).


As ciências também já deram evidência de que o cérebro (sim, o órgão físico) se desenvolve (aumenta de tamanho mesmo) consoante os estímulos que recebe e as áreas que trabalhamos.
A história também já nos mostrou como podemos menosprezar os outros por achar que são diferentes ou porque "vemos que é assim"... Afinal, a terra não é plana, ainda que nos pareça quando olhamos à nossa volta...


Não gosto de extremismos, não gosto de proibições.... Também preferia que houvesse discernimento, conhecimento e sensatez, mas isso nem sempre é...


E com o passar dos anos, vamos evoluindo e descobrindo que nem tudo é preto e branco, nem tudo é tão simples que possa ser separado por cores, por genético ou social, ou por sexos...


E para acabar este longo discurso, deixo uma opinião (entre muitas) de alguém que estuda, que se especializou e nos fala de igualdade, dos estereótipos, do modo como nos moldam e nos fazem acreditar que são "naturais" (ou que têm causas exclusivamente genéticas)...
Para pensar apenas...

 

 In EIGE

 

E já agora, deixo mais este...

 In BBC Stories