Empresta-se Pai (daqueles mesmo bons!)
Pai não é qualquer um.
Não é aquele que por sorte de um instante doou o seu "girino" veloz e certeiro.
Não é aquele que depois desse momento fértil, pouca disponbilidade teve para ser na vida que gerou.
Não é aquele que não soube cuidar, mas antes maltratar.
Pai é aquele que cuida, educa, acarinha, está, desdobra-se e tenta o impossível para ser na vida do seu rebento.
É aquele que faz por estar, por dar o seu tempo e a sua disponibilidade, para que mesmo quando não pode estar presente, não ser ausente.
É aquele que ultrapassa as impossibilidades, dando o tempo possível e faz esses instantes valerem pela vida.
Este é o pai do meu filho e o homem que amo.
E é por ser o pai que é, que tem um filho que sabe que o seu amor é incondicional, que sabe que o pai estará sempre para ele, e que por isso é até capaz de o emprestar...
Hoje-em-dia está um pouco na moda chamar os pais para participar em atividades em horário laboral, o que, confesso, me deixa ambivalente.
Se por um lado, acho positivo envolver os pais no que se passa na escola, por outro acho que estas atividades podem não ser o melhor modo. Vejamos:
Os pais que têm tempo (ou arranjam tempo) para os filhos, não necessitam destas atividades para se lembrar de estar com os filhos; por outro lado, os que não o fazem (por indisponibilidade), também dificilmente se disponibilizarão em horário laboral para tal; e existem ainda, os que gostariam, mas por circunstâncias da vida, simplesmente não podem estar (por impossibilidade efetiva).
Nem todos são filhos únicos e nem todos os irmãos andam nas mesmas instituições, mas o dia do pai é um só dia e o "pai" também, logo, surge a questão de fazer uma escolha (impossível) entre filhos ou optar por simplesmente não ir a lado algum.
Temos então atividades em que uns estão acompanhados e os outros são confrontados com a evidência da ausência, numa idade em que impera o egocentrismo cognitivo e o pensamento mágico, onde a realidade e desejo se misturam, e num passo de imaginação tudo parece possível (menos fazer aparecer a pessoa).
Poderemos ter um acumular de ausências e sentimentos de abandono com consequências ao nível da autoestima e autoconceito das crianças de cujo familiar não vem.
E temos atividades que chamam os pais, mas em horas pouco convidativas, e para assuntos que não importam realmente na vida da "escola", pois são festividades. No sentido, em que não alteram o Plano de Atividades delineado, nada acrescentam ao Programa Educativo, não alteram rotinas instaladas, nem integram sugestões dos pais no dia-a-dia da Instituição/Escola, etc.
É no contexto destas atividades, que o meu filho e o pai dele me encheram de orgulho por estarem na minha vida e que, mais uma vez, vieram os meus sentimentos negativos acerca das mesmas.
Contou-nos ele que o amiguinho estava a chorar porque o pai dele não podia vir à atividade. (Não sei o motivo, não tenho que saber, nem pretendo julgar este pai, pelo contrário. Sei bem que nem sempre é possível tirar tardes, faltar ao trabalho, dividir-se em dois para estar...)
O meu pardalito, seguro de que não perderia o seu pai, e sentindo a dor do amigo, não esteve por meias medidas e ofereceu-se para lhe emprestar o pai.
Mas o amigo não quis. Queria o pai dele.
Ao final da tarde na Piscina, havia também uma atividade para pais.
Mais uma vez, uns tinham os seus pais, outros tantos estavam sós.
Eu assisto à aula de Natação e vejo este pai (este meu marido) já, não com um, mas três que se lhe penduram ao pescoço e o adotam na ausência dos seus pais.
E vejo um filhote, seguro do amor que tem, que partilha o pai sem se importar e pede ao pai que atire também o amigo ao ar, à vez.
E, na minha ambivalência, sorrio pensando na sorte que tenho de ter estes dois seres maravilhosos na minha vida...
Nem todos têm a mesma sorte.
Pai não é qualquer um.
Este é o pai do meu filho e o homem que amo.
E é por ser o pai que é, que tem um filho que sabe que o seu amor é incondicional, e por isso é até capaz de o emprestar...