Liberdade Sempre
Eu já nasci em "liberdade", fora de um regime do qual só ouvi falar e aprendi nas aulas de história... E tal como eu, muitos das gerações que se seguiram a abril de 74...
Por vezes, para quem não experienciou o antes, para quem nunca foi privado (realmente) da sua liberdade, este dia pode parecer um como os outros. E, também para outros, com opiniões divergentes que só a eles caberá saber e que sinceramente nem tenho vontade de debater, este dia foi um erro...
Eu lembro-me mais do que o que li, dos relatos que ouvi de quem por lá passou...
Em especial os da minha mãe e contá-los-ei ao meu filho até que a voz me doa, porque ele não tem (e espero que nunca venha a ter mesmo) noção do que é viver em ditadura... Do que é não ter liberdade. Do que é ter medo de expressar uma opinião, mesmo quando sussurrada a um ouvido amigo. Do que é ter medo de ter opinião divergente e de que alguém a descubra, como se os pensamentos pudessem ser ouvidos quando apenas ecoam na nossa cabeça. Ter de ir ao "mercado negro" para poder comprar um livro do Quino, como se fosse algum criminoso a comprar armas ou drogas. Ter receio que descubram que se tem um LP dos Beatles...
Ter medo e não poder fazer o que hoje se faz com toda a liberdade, como dado adquirido, garantido que não foge...
Mas não é garantido e não o foi de modo algum durante muito tempo.
Mas não é garantido e não o foi de modo algum durante muito tempo.
E, sentada em frente à TV, enquanto se mostram os festejos com parada militar, de armas erguidas, espada no ar, hei-de-lhe contar sempre como, naquele dia, houve flores vermelhas na ponta da espingarda e não tiros. Houve música com mensagens escondidas para dar o mote a uma revolução pacífica, de capitães que disseram basta e convidaram outros a juntar-se à revolução. Houve um povo unido que sem sangue, nem gerras mudou a história.
Hei-de-lhe contar sempre que vem de um povo que, como nenhum outro, um dia na história, mostrou que se podem vencer guerras sem violência e mudar o mundo com uma revolução de cravos.
Quanto mais não seja, hei-de-lhe falar neste dia para o lembrar que, mesmo que pareça impossível, o caminho não violento pode ser possível... e a liberdade é preciosa.