Conversas "infantis" sobre a vida e a morte... #1
A morte nunca foi assunto tabu cá em casa, mas sim uma realidade incontornável.
E o assunto de que todos fugimos a sete pés e, principalmente, recusamos falar com crianças, aqui sempre foi natural.
As perguntas que todos os pais temem (além de muitas outras de que eu também fujo um pouco), foram surgindo e foram sendo respondidas da maneira mais natural e simples que consegui. Sem mentir, apenas tentando adaptar ao sentir do meu filho… à compreensão dele.
É sobre essas conversas sobre morte e vida que vos quero falar, contando como têm sido e evoluído na nossa vida… Esperando que a partilha possa ajudar-vos também a falar de morte ou que as vossas contribuições e comentários me ajudem também e, que todos possamos conseguir falar do “tabu”…
Esta é a primeira delas.
Cedo tive de lhe explicar que a avó de quem tanto lhe falava, já não era. Tive de lhe explicar que não a podia ver senão em fotos, pois ela já não estava cá para o amar, mimar e vê-lo crescer. Não era tangível. Não a podíamos ir visitar. Tal como o avô dele, meu pai, apesar de não falar tanto dele. Ambos haviam morrido.
Tive que lhe explicar que a avó era uma memória doce no meu coração, que lhe queria transmitir. Que vivia em mim e nele, porque era a sua avó e a minha mãe. Era a minha mãe que se foi cedo demais (como achamos que vão sempre todos os que amamos e foi).
E vieram questões e o medo de nos perder… O e se a minha mamã/papá também morrer?
Então, sem lhe mentir, expliquei que avó morreu porque estava muito doente e que todas as pessoas morrem, normalmente por ficarem muito velhinhas ou então por ficarem doentes como a avó dele. Que faz parte da vida. Contei que a avó tinha uma espécie de bichinhos no corpo que estavam a fazer asneiras lá dentro, a estragar tudo e a pô-la doente. A explicação mais simples possível, tendo em conta a idade...
Expliquei que os papás ainda são novos e que vão tratar deles e ter cuidado para não ficarem doentes.
Prometi que íamos tratar de nós e dele, para que nenhum de nós ficasse doente.
Sosseguei o coraçãozinho dele, sem lhe prometer o que não posso: que não vou morrer um dia.