Conversas "infantis" sobre a vida e a morte... #3
A certa altura (talvez por saudades de ter um animal de estimação), lembro-me e compro peixinhos.
Dois novos inquilinos: “Bombeiro Sam” e o “Rocky”. Batizados pelo nosso “pardalinho”
Ele acha graça aos peixinhos, dá-lhes comida, ajuda a lavar o aquário. Não fica “maravilhado” com os peixes, mas acha-lhes piada.
Certa manhã, o Rocky aparece a “boiar”.
Ele (meu filho) tinha pouco mais de dois anos e meio, e mais uma nova perda para compreender.
Contamos-lhe.
Não dizemos que despareceu, não escondemos, não compramos outro “peixe igual”.
Digo-lhe que ele devia estar doente, mas que foi um bom peixinho e teve boa vida e que podemos ir despedir-nos dele, largando-o na ribeira, porque ele gostava de água e havia de gostar do nosso “rio”.
Digo-lhe também que podemos ir comprar um novo peixinho depois, para o Bombeiro Sam não se sentir sozinho.
Levamos o corpo numa caixinha. Paramos no meio da ponte sobre a ribeira. Digo-lhe para me contar o que gostava mais no Rocky e para lhe dizer adeus. Abro a caixinha e deitamos os dois, o defunto às águas.
Ele não diz nada, mas fica a pensar no sucedido.
Ao final do dia, vou buscá-lo à escolinha. Pergunta-me:
Se eu ficar doente, tu também vais deitar-me ao rio?
(E agora? Tem a sua lógica…)
Não consigo não me rir. Sossego-o:
“Não, filho! Nunca, meu anjo! Se tiveres doente, vamos tratar de ti! Não se deitam pessoas ao rio!”
Explico que deitámos o peixinho ao rio para nos despedirmos dele, porque estava morto e porque os peixinhos gostam de água. Garanto-lhe que nunca o mandaria ao rio e que vou com ele ao médico quando estiver doente e farei de tudo para que nada de mal lhe aconteça.
E entre respostas e novas perguntas, fomos falando.
Sossegando-o e conversando com calma sobre a morte… Até porque houve uma sucessão de “funerais” e novos inquilinos, até eu desistir de ter peixes…
Não sabemos bem o que fazíamos de errado, mas volta e meio, lá se ia um peixe. Seja porque o “pardalito” se lembra de se pôr na cadeira para espreitar o aquário e lá vai aquário ao chão (desfaz-se me cacos no chão), seja porque um peixe decide “suicidar-se” e saltar do aquário improvisado (após queda do "a sério") para o chão, seja porque compro um novo peixe pretinho e os outros começam também a fica pretos e morrem… Não sei.
Desisti de ter peixes, mas esses “funerais” viriam a dar jeito para outras conversas mais tarde… Lá chegaremos…