Conversas "infantis" sobre a vida e a morte... #4
- Então, se os micróbios estragaram o corpo da avó e a puseram doente… Eu tenho micróbios que estou constipado… Vou morrer?
(Esta é tramada! Como não lhe mentir e responder a isto sem o assustar?!)
- Não, filho, não vais morrer por estares com gripe! Todas as pessoas têm gripe às vezes, mas não morrem por estar constipadas. Os teus micróbios são dos que chateiam, mas não matam. Todas as pessoas morrem um dia, mas não é por estarem com micróbios da gripe.
- Mas a avó também tinha micróbios!
(Pois, é… Foi mais ou menos isso que lhe disse e agora? Como descalço a bota? Como explico o que é cancro e metástases a uma criança de dois-três anos? Que não foram micróbios, nem bichos, mas células que degeneraram? Como explico o que é uma célula a uma criança desta idade??? Com calma…)
- Eu sei que foi isso que a mamã disse… mas não me expliquei muito bem. Deixa ver se consigo explicar melhor para tu perceberes.
A avó não tinha bem micróbios… O corpo dela começou a estragar-se e a ficar doente, mas não foi bem por causa de micróbios…
Olha estás a ver os teus carros dos legos? (“Sim.”)
Nós montámos os teus carros de legos juntos. Pegámos em peças de lego e construímos os carros. Os nossos corpos também são feitos de peças muito pequenas que não conseguimos ver. Só ao microscópio que é assim uma espécie de uma lupa super poderosa, como a tua lupa de polícia. Ou como uns binóculos especiais.
Estás a perceber?
- Mais ou menos…
- Ok. Então, estás a ver os teus carros de legos, certo? Eles têm muitas peças e se uma se estragar eles vão ficar meio estragados. Ou os outros carros. Por exemplo, aquele que se partiu uma roda. Ficou estragado, não foi?
- Sim.
- Então, o nosso corpo também é feito de muitas peças super pequeninas. Olha, como os legos e como aqueles soldadinhos brancos e vermelhos do sangue que estão naquele livro sobre o corpo. Lembras-te?
(Acena afirmativamente)
– Pronto! Algumas peças do corpo da avó ficaram doentes e começaram a estragar-se. Como eram malandras, começaram a estragar outras peças dentro do corpo da avó. E avó começou a ficar muito doente por causa disso e a sentir-se muito mal.
- As peças malandras davam pancadas nas outras e batiam-lhes assim: "Pumba!" para estragar as outras? (Faz gestos de murros e luta)
(Sorrio)
- Sim, filho. Mais ou menos. Eram mesmo muito malandras as peças doentes, por isso é capaz. Mas como só dá para ver com o microscópio... A tal lupa especial. Nós não conseguimos ver bem. Só sei que estragaram as outras, as malandras!
(Com "zaragata" pelo meio fica satisfeito com a explicação, continuo...)
- Então, os médicos tentaram arranjar as peças e tratar da avó, mas não conseguiram. E foi por isso que ela ficou muito doente e a sentir-se mal, até o corpo dela não aguentar mais e ela morrer. Não foi por causa de micróbios como os que tens.
- Porque não conseguiram? Os médicos, porque não conseguiram?
(Boa pergunta! Também gostava de saber…)
- Olha… Porque a doença que a avó tinha era muito má e as peças eram muito malandras. Os médicos tratavam de umas e outras peças malandras estragavam mais peças e cada vez havia mais peças estragadas no corpo da avó.
Mas os médicos costumam conseguir ajudar (Penso, para mim, “às vezes…”) e quando são micróbios de gripe, eles já sabem qual é remédio! Para a avó é que não conseguiram descobrir a tempo qual o remédio… Ainda andam a estudar, porque a doença dela é mesmo muito chata.
Percebeste?
- Porque as peças eram muito más e batiam muito e estragavam tudo?
- Acho que sim, filho. Mas olha, não te preocupes com os micróbios que são malandros, mas não são o que a avó teve. E prometo que vamos tratar de ti e de nós e fazer tudo o que os médicos dizem para não apanharmos nehuma doença e as noças peças não se estragarem, está bem?
- Humhum.
(Ficou com uma ideia. O suficiente para acalmar as suas ansias e receios… Depois trará mais questões…)