Exp(lora)osição mediática de criancas...
Depois de tudo o que já se falou, há alguns pontos que não consigo calar em mim e que gostaria de colocar para reflexão, principalmente para quem defende o programa "porque os pais expõem as crianças em imensos outros programas, e no facebook, blogues, instagram, etc.":
1- As crianças são seres de direito e não objectos de direito... De facto, cada pai decide o que publica nas redes sociais ou noutros locais. Se se concorda com isso ou não, mesmo que legalmente seja permitido, já é outra conversa.
2 - Sempre ouvi dizer que dois errados, não fazem um certo. Que me desculpem, mas argumentos que defendem que não há mal, porque também se fazem outras coisas erradas, escapam-me. Além disso, geralmente, os pais expõem o "melhor" dos seus filhos, ou o que é lindo pelo menos a seus olhos. No caso do programa que parece ter batido audiências este domingo e gerou todas estas conversas, só se expõe o pior da criança começando logo por rótulos depreciativos como "furacão" e filmagem atrás de filmagens de "birras"...
3- Quantos de vós se lembram de ficar embaraçados quando levavam os vossos amigos lá a casa e as vossas mães iam buscar o vosso álbum de fotos de bebé ou contavam histórias embaraçosas (engraçadas) da vossa infância? Gostavam muito dessa exposição sem o vosso consentimento? Então que tal se elas fossem para a TV para amigos e milhares de desconhecidos verem?
4- "Ah e tal, mas o problema é o tamanho da audiência? Se for uma birra monumental no shopping já não há problema?!" Este "show" sendo veiculado por TV, com publicação online do vídeo do programa para propagação do mesmo, por milhares, milhões, quem queira ver, sendo que a marca digital não se costuma perder (desaparecer no tempo), expondo o local onde vive uma criança, identificando a localidade exacta, filmando a casa do lado de fora (e dentro), identificando-a pelo seu nome verdadeiro, expondo a sua cara/imagem com toda a clareza, categorizando-a e rotulando-a negativamente, mostrando o seu "pior", invadindo o seu espaço / privacidade, e expondo-a na sua vulnerabilidade...
5 - E que tal o facto de se tornar uma espécie de julgamento (humilhação) público facilmente difundido ao toque de um clique, sendo o julgamento "reforçado" pela opinião de uma "especialista" que faz esgares depreciativos e juízos de valor sobre a criança...
6 - O facto de, consentindo-o a lei ou não, as crianças não serem propriedade dos seus pais, mas pessoas e haver uma convenção dos direitos da criança que fala da protecção e direito à vida privada e do bem maior da criança.
Com toda a franqueza alguém pode afirmar com seriedade que o programa e a difusão das imagens destas crianças é para o seu bem superior?!
Depois um aparte ou a outra questão/parte que me faz muita espécie, principalmente como psicóloga, é com a afirmação da apresentadora em como "não está no programa como psicóloga".
OK, então não a apresentem, como fizerem, como psicóloga clínica com não sei quantos anos de experiência e 4 livros publicados...
#nannyboicote