"Women... Choose Yourself!"
Esta não é uma história qualquer...
Não é apenas uma daquelas que se ouve ou se lê para rapidamente se esquecer.
Não é daquelas que lamentamos, mas foi lá longe, noutro canto do planeta.
Não é daquelas que arrepia, mas ultrapassamos rapidamente, habituados aos atos horríveis que ouvimos diariamente terem sido cometidos.
Não é apenas mais uma história.
Pelo menos, não para mim.
E gostava que não o fosse para o mundo.
Para mim é a história verídica e bem próxima de algo terrível que aconteceu a uma amiga... lá longe, mas bem perto, porque quem tem lugar no nosso coração está sempre perto. E a distância pouco interessa, quando nos toca ou toca aos "nossos"...
Infelizmente é esta a realidade... Habituámo-nos às atrocidades, à falta de humanidade, à violência e violação dos direitos dos outros. Ficamos indiferentes, a não ser que nos toque...
Por isso, partilho a sua história e o seu grito pela igualdade de direitos, pela denúncia dos abusos e violência contra as mulheres.
Partilho a falta de humanismo.
Partilho a naturalidade com que uma agressão violenta foi ignorada.
Partilho como apenas uma criança foi humana o suficiente para se importar com uma desconhecida, caida no chão, inerte e inconsciente.
Partilho como a atuação das forças policiais foi sexista e preconceituosa.
Partilho como quem devia ter a autoridade e o poder para agir, apenas agiu no sentido de se livrar de fazer seja o que fôr.
Partilho como num país em que supostamente as ofensas sexuais são crime, o crime passa e é reforçado pela inação.
Partilho como uma mulher muito forte e especial se teve de reerguer e reconstruir sozinha.
Partilho como esta mulher linda teve de encontrar a sua própria paz na frustração da inação das autoridades.
Partilho como ela partilhou para tentar dar força e coragem a outras mulheres, num mundo que continua extremamente machista...
Partilho, porque vale a pena ser lido este testemunho e pensar sobre ele.
E, não só por ser minha amiga, mas por se ter passado num país "supostamente" evoluído. Um país onde supostamente as ofensas sexuais eram gravemente penalizadas...
Supostamente, porque na realidade falo de um país onde se descobriu recentemente que acusações de abuso sexual por parte de candidatos a Presidente são ignoradas, desconsideradas e resumidas a "locker room talk"... Um país em que parece, pois, que usar uma linguagem sexista, discriminatória e misógina é admissível num presidente e, como tal, em qualquer homem... em qualquer ser.
Temo pela minha amiga. Temo pelas mulheres que vivem neste país que elegeu um tal presidente...
E não consigo, de modo algum, compreender como 54% das mulheres deste país votaram "contra si próprias"...
E temos por todas as mulheres que em países (evoluídos ou não) são sujeitas a maus tratos e abusos físicos, sexuais e psicológicos.
Ainda há um longo caminho na luta pela igualdade de direitos... Um caminho que deve ser feito também por nós, mulheres, que desculpamos, que não expomos por vergonha, que nos culpamos por ser abusadas, que educamos os nossos filhos para serem machos e não humanos...
E espero que este testemunho, desta mulher forte e maravilhosa, possa ajudar outras mulheres, estejam onde estiverem, a escolher-se a si próprias!
P.S. O breve comentário sobre o atual presidente não tem como objectivo desviar o assunto para um debate político pouco frutuoso. Também não pretendo defender a outra candidata, nem dizer que era ou não excelente... Estou apenas a expôr um receio legítimo perante os factos. Perante a atualidade no que concerne à igualdade de direitos entre sexos no país onde a minha amiga vive...